Quem se coloca a si próprio na pouco invejável situação de ouvir, mesmo que com bastantes “intervalos”, os discursos cometidos em cerimónias como esta do 10 de Junho, não pode depois queixar-se. São rigorosamente aquilo que se espera. Discursos soporíferos, redondos, pretensiosos, “patrioteiros”, manhosos.
Do sociólogo Barreto, o tal que diz orgulhar-se acima de tudo de ter contribuído para a destruição da Reforma Agrária, direi simplesmente que não foi com o discurso de ontem que arranjou novo motivo de orgulho. Aquilo foi uma coisa penosa! Para explicar uma coisa simples, mas que ele deve ter muito mal resolvida no cérebro já um pouco despenteado, a ideia de que os soldados que cumpriram o seu serviço militar na guerra colonial não ficaram por isso equiparados aos colonialistas nem aos “pides”, nem ao regime que os enviou para a guerra, não sendo portanto legítimo (salvo excepções) que sejam olhados de lado... para explicar esta coisa tão simples, como dizia, andou para ali às voltas, repetindo as mesmas frases vezes sem conta, enrodilhado em justificações e comparações inúteis.
Poderia, sei lá... ter-se lembrado de que os “velhos militares de Abril” foram todos (ou quase todos) “velhos combatentes” na Guerra Colonial...
Quanto à estrela da companhia, Aníbal Cavaco Silva, mesmo sem talento para ler em voz alta nem um menu de restaurante, nem lhe sendo conhecidos grandes rasgos de coragem, mesmo retórica, era de esperar que o seu apurado oportunismo o impelisse a abrir oficialmente, ali, a sua campanha eleitoral.
Enquanto a coisa se ficasse pela “patrioteirada” inconsequente, genérica e apologética dos oitocentos anos de História, do dar mundos ao mundo, do levar a Europa a todo o globo, etc., ou então, num registo mais imediatista, defender a «equidade nos sacrifícios» e a «transparente explicação dos mesmos»... ainda se suportaria, mesmo que cabeceando; mas quando se passa para o tal discurso manhoso em que, a pretexto de uma alegada unidade nacional para vencer a crise tenta vender-se a ideia de que as (tantas vezes) profundas diferenças na luta política, não passam afinal de «querelas partidárias», ou de «quezílias ideológicas», de que é possível e aceitável promover a união de trabalhadores e patrões («pedir às vítimas para ajudar os carrascos», como horas mais tarde diria certeiramente Jerónimo de Sousa), aí o caso muda de figura.
Primeiro, pelo perigo que representa o enorme número de portugueses que, na falta de melhor conhecimento, ainda acha que assim é que devia ser... “deviam era juntar-se todos!”...
Segundo, porque este tipo de discurso, profundamente ideológico, ao contrário do que quer parecer, um discurso em que se quer substituir uma sociedade dinâmica, pensante, dialogante, comprometida, por uma espécie de “lamaçal” em que todos estariam com todos... é o paraíso dos oportunistas, aproveitadores e, no limite, dos “homens providenciais”, aqueles que põe “ordem nas coisas”.
Felizmente, mesmo quando parece que não há outros caminhos... há! E há gente para os fazer, caminhando!
sexta-feira, 11 de junho de 2010
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