quinta-feira, 30 de julho de 2009

O povo unido jamais será vencido?

Temo-lo visto em campanha.
Leitor, se tens, como eu, esperança e sincera fé no sistema representativo, perdoa-me o obrigar-te a assistir a cenas que faz subir a cor do rosto de quem, como nós, abençoa os sacrifícios por cujo preço sucessivas gerações compraram a nobre regalia de intervir, como povo, na governação do Estado.
Estas cenas, porém, humilhantes como são, não envolvem a mínima censura à excelência do sistema; mas apenas aos que nos trinta e cinco anos que têm de vida entre nós não souberam ou não quiseram explicar ao povo a grandeza da augusta missão que lhe cabe executar, votando!

Tendes visto um guardador de cabras à frente do seu rebanho, conduzindo com acenos e assobios todas as barbudas cabeças daquele regimento quadrúpede? Pois viste o mais perfeito símile de algumas cenas que tenho presenciado.
O povo, o povo soberano, que tem nas mãos o ceptro da sua soberania, não é menos dócil do que os irracionais que recordamos.
Quando mais deve mostrar-se orgulhoso, é quando mais se humilha; quando mais pode dispor dos destinos dos seus senhores é quando mais verga a cabeça sob o peso que estes lhe assentam.
Não é semelhante esta força inconsciente do povo à do boi, robusto e válido, que uma criança dirige e subjuga? Forte como ele, como ele dócil, como ele laborioso, como ele útil, não vê que a mesma força que emprega no trabalho lhe poderia servir para repelir o jugo?
À frente ia o chefe. Atrás vinham os seus seguidores, velhos e moços, ricos e pobres, mas todos com o olhar tímido e estúpido, todos com movimentos enleados, todos com os olhos no caudilho, para saber o que deviam fazer; se ele parava a cumprimentar um amigo, paravam todos com ele; a direcção que tomava tomavam-na todos a um tempo; apressavam ou demoravam o passo, segundo a velocidade que ele dava aos seus; se ria, sorriam; se praguejava, tudo ficava sério.
Inocente povo!
Querem-te assim os ambiciosos, a quem serves de cómodo degrau!

Dicas para comentário:

Viu cenas destas no passado? E, no presente?

Acha que em Matosinhos também é assim? Em caso afirmativo, quem lhe lembra esta cena?

1 comentário:

Um cidadão de Matosinhos disse...

Excelente texto. Não conhecia o blog.
Como matosinhense só tenho que me congratular por ler, finalmente, neste meio, alguma coisa que mereça ser relido.
Se conseguirem manter o nível ter-me-ão por aqui muitas vezes.
Quanto às perguntas: O retrato traçado ajusta-se a qualquer candidato; e não só para os de Matosinhos.
Parabéns! Continuem! Não se desviem!